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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Por uma existência menos hipócrita...

... retire o seu aniversário do perfil do Orkut.

domingo, 12 de abril de 2009

A Via Liberal

O último post gerou bastante polêmica, boa parte da qual deriva da minha incompetência: fui muito vago, de tal forma que, ao que escrevi, podem caber mil interpretações.

É hora de botar pingos no is, por assim dizer. Começarei pela idéia de Estado e como compreendo sua construção, concluindo com a elucidação da expressão "via liberal".

O Estado é invenção dos homens, dos indivíduos. Ele é posterior a eles e não anterior. Surgiu porque era cômodo ao Homem, que, coletivamente, poderia assim se defender - fosse das feras, das pragas, da fome - melhor do que individualmente. Portanto, o Estado é um facilitador, não uma divindade. As relações materiais entre os indivíduos se dão por meio de trocas - a divisão do trabalho. Quando os indivíduos acham que determinado serviço ou bem não deva ser produzido por alguma razão pelos agentes, pode-se fazer um acordo para que esse bem seja fornecido pelo Estado. Assim, o Estado teria a função de garantir que as trocas fossem feitas de forma voluntária, de garantir a segurança e a propriedade dos seus cidadãos e, de certa forma, intermediar a produção e circulação de certos bens.

Além disso, há coisas que os indivíduos costumam achar positivas para todo corpo da Sociedade: acesso à saúde, à alimentação e à educação, por exemplo. Ninguém nega que as pessoas devam ter oportunidades semelhantes. E a única maneira possível de garantir isso é através do Estado. Imputar ao Estado este papel não implica, no entanto, torná-lo um empreendedor. Falar em acesso universal à educação, à saúde e à alimentação não implica um estado dono de escolas, hospitais e fazendas; quer dizer somente que o Estado deve, de alguma forma, garantir acesso universal a esses elementos. Ora, se há vagas em escolas privadas, por que o governo deve empreender a construção de novas escolas públicas? Construir e, principalmente, manter prédios demanda tempo e recursos públicos - isso sem falar no corpo burocrático que precisa ser criado para administrar o estabelecimento. Não é mais simples e barato o Estado matricular os alunos mais pobres nas vagas ociosa já existentes no sistema privado de ensino? O mesmo argumento vale para acesso à saúde e outros serviços.

Em suma, por "Via Liberal" entendo o modo de gestão pública na qual o Estado ao invés de empreender serviços, protege o cidadão, garante o cumprimento dos contratos e financia o acesso dos mais necessitados aos serviços fundamentais (o ról de serviços assim considerados pode variar de sociedade para sociedade).

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fórum da Liberdade - considerações

O Fórum da Liberdade é, muito a grosso modo, uma espécie de Fórum Social Mundial da direita. Embora prefira o enfoque do primeiro, não dá para negar que boa parte das palestras do primeiro são mais para adular os ouvidos dos participantes, dizer o que eles querem ouvir. Pelo menos, no Fórum da Liberdade isso acontece apenas em boa parte das palestras e não na totalidade delas, como no evento da esquerda. Será que um grupo de empresários engravatados seria recebido de forma tão cordial no Fórum Social Mundial quanto o foi a delegação de uma entidade do movimento afro no Fórum da Liberdade?

Duas palestras me impressionaram especialmente. A exposição de Charles Murray - doutor em Ciência Política pelo MIT - sobre o impacto do estado de bem-estar social sobre as perspectivas e motivações do indivíduo foi, além de original, muito inspiradora; ver o Demétrio Magnoli solapar impiedosamente a existência de algo chamado "raça" foi impagável. Pretendo divulgar os vídeos com essas palestras aqui assim que estiverem no ar.

Foi a segunda vez que participei do evento e não me lembro se na outra edição me ocorreu a seguinte preocupação. O Liberalismo, ao contrário do que muito se diz por aí, não é o paradigma ideológico que privilegia os ricos em detrimento dos pobres. O liberal puro - não esse bando de parasitas que ficam mendigando favores do estado - crê na liberdade individual, de pensamento, de iniciativa como a ferramenta de transformação da sociedade. Ele não acredita que o indivíduo é uma decorrência do Estado, mas sim na existência deste último como tendo a finalidade fundamental de garantir a sua liberdade. Ou seja: o liberal recusa totalmente a tutela do Estado. Ninguém sabe melhor do que eu o que é melhor pra mim mesmo.

Sendo, então, o Liberalismo uma doutrina sem classe - tanto que é mais fácil achar um rico comunista do que um pobre comunista - ele deve considerar seriamente os problemas da sociedade. E a pobreza é um deles. Embora boa parte dela surja da má gestão que o Estado dá aos recursos públicos e que, portanto, poderia ser remediada com a aplicação de idéias liberais, não é possível nem desejável esperar que o Brasil se torne um estado liberal para extinguir este problema. E este, para mim, é o grande desafio dos liberais: mostrar para a sociedade que é possível exterminar a miséria pela via da liberdade, sem recorrer ao lento, ineficiente e corrupto estado.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Hiperdocumentação

Festas de final de ano, comilança, bebedeiras e fotos. Muitas fotos.

Sou só eu que fico meioangustiado quando vou bater uma foto em família ou com os amigos e vejo cada pessoa entregando sua câmera para o fotógrafo fazer um registro da situação?

A conclusão é óbvia: a disseminação das câmeras digitais e a possibilidade de se tirar um número (quase) sem limite de fotos levou à banalização da fotografia.

Não, eu não sou contra a tecnologia, nem achava bom ter que ficar mandando rolos de 24 poses para a revelação. Só acho que a proposta ilimitada que as digitais trazem consigo acaba por reduzir a importância da fotografia - afinal, momentos marcantes vão ocupar o mesmo espaço que os momentos sem nenhuma importância no HD de um computador. Quem, no futuro, vai ter saco de separar esse material? Quando estudava, eu sofria com falta de imagens dos meus bisavós, trisavós, etc... Meus bisnetos e trisnetos também sofrerão: mas desta vez será pelo excesso de fotos, vídeos etc.

Fico só imaginando quem, daqui a uns 50 anos, se prestará a ver cada uma das 300 fotos daquele amigo secreto da empresa...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cavalo vestido

Sempre acreditei que o verniz na forma nunca deve prescindir a qualidade do conteúdo. Mas, diante do senso-comum democrático e politicamente correto, sou assombrosa minoria. O que vemos por aí são belos modos, riquíssimos rituais, e comportamentos altamente sofisticados que, ao incauto, podem fazer passar despercebida a limitação e a grosseria do que está no cerne de cada firula, rococó ou gentileza. Pessoas pobres de espírito ao se manifestarem de forma polida ou ao ouvirem Bach não se tornam menos pobres de espírito (muito embora Bach ilumine sempre) - da mesma forma que um cavalo vestido não é menos cavalo e mais homem pelo simples fato de estar enfiado num Armani.

domingo, 30 de novembro de 2008

Direito à opinião

Como tudo que é muito bonito na teoria, o direito à opinião, na prática, gera transtornos.

Acredito que toda manifestação é válida, contanto que seja pertinente. A bola da vez, em Porto Alegre, é o Pontal do Estaleiro, investimento que prevê a construção de prédios altos e de uma área comercial aberta ao público na orla do Guaíba.

Eu tenho opinião formada sobre o assunto. E, com restrições, ela é favorável ao projeto. Ter opinião é saudável.

O problema surge quando pessoas que moram longe do local reivindicam para si o direito de escolher se a construção deve sair ou não. Chega a ser patético ver o pessoal do Bom Fim ou da Bela Vista decidindo, das suas poltronas, se o Pontal deve ser erguido ou não. Eesta questão deve ser definida por quem está no seu escopo: os moradores da região, arquitetos, engenheiros e ambientalistas. Pessoas como eu não devem ter a pretensão de decidir se o investimento se dará ou não: ao tomar para mim este direito, retiro-o, na mesma proporção, de quem será diretamente afetado pela obra e de quem tem conhecimento de causa sobre a questão: os verdadeiros interessados pelo futuro do Estaleiro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Feira do Livro I

A Feira do Livro é o emblema-mór do provincianismo porto-alegrense. Por pouco mais de duas semanas, os gaúchos da capital ganham o direito de se apinhar entre os estandes - fazendo de conta que lêem muito -, freqüentar as atividades pretensiosas e pseudocults promovidas pela Feira e, o melhor!, serem galardoados com autógrafos de sumidades do conhecimento e da cultura ocidental como Humberto Gessinger, Anonymous Gourmet, Luís Augusto Fischer, Luís Fernando Veríssimo, entre outras deidades gaudérias.

Logo no domingo, caí na asneira da assistir um espetáculo cênico-musical sobre 1984, do George Orwell. (Teria sido extremamente proveitoso se, no site da Feira, constasse que a montagem era livremente inspirada no livro.) O que presenciei foi de rara medonhice: uma coleção de canções (dessas que tu escuta na praça de alimentação de um shopping) falando sobre amor, interpolada por falas no melhor estilo Ursinhos Carinhosos: "O mundo seria um lugar muito melhor se houvesse sobre a cabeça de cada um de nós uma lâmpada que acendesse quando mentimos". Uma tentativa pretensiosa de transformar 1984 na última coisa que ele é: a bandeira do mundo melhor preconizado pelas esquerdas. Não resisti até o final.

O bom é que, com o passar do tempo, tu deixa de te iludir com certas coisas. Estou bem mais tolerante com a Feira neste ano do que no passado, pois, desta vez, ao contrário das edições anteriores, não tinha a intenção de encontrar na Praça da Alfândega a salvação terrena. Um passeio minimamente agradável já me bastaria.

Comprei alguns livros, mas isso fica para um próximo post.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sazonalidade

Como já havia deixado implícito no último final de ano, postar e final de semestre são termos perfeitamente contraditórios.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Malthusiano, eu? Imagina...

Junk food, celulares, cigarro, usinas nucleares, conservantes, álcool, corantes, microondas, drogas. A humanidade ainda vai agradecer pelos malefícios que eles causam.

Em uma época em que a moda é ser saudável, vegetariano, ir pra academia todos os dias, e em que a única uma das metas do ser humano é viver tanto tempo quanto for possível, esses grandes vilões do nosso cotidiano nos prestam um serviço fundamental: impedem que todos os homens vivam até os 150 anos.

Com as taxas de natalidade declinantes em todo globo e o aumento incessante da expectativa de vida até mesmo em países de terceiro mundo, se não houvesse estes elementos compensatórios, nosso planeta estaria fatalmente condenado à exaustão de seus recursos por uma população de velhos caducos idosos.

E aí, já comeu o seu Speed com Coca litrão hoje? :D

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cemitério

Quem me conhece há algum tempo sabe que eu tenho alguns interesses meio... er... mórbidos. O mais notório dentre ele é o fascínio que tenho por cemitérios. Muitos acham esse gosto estranho - para não dizer funesto -, coisa de louco. A real é que desde pequeno eu sempre gostei de freqüentar cemitérios.

Há uns anos atrás, quando eu ia visitar a minha vó em Barra do Ribeiro, eu sempre pegava a bicicleta e me bandeava pro pequeno cemitério de lá. Ele ficava no meio de um campo aberto, emoldurado por capões verdes muito bonitos. Ficava por lá uma ou duas horas, sentado sobre o túmulo do meu trisavô, pensando na vida, em meio aquele silêncio quase onírico, até se pôr o sol (e que lindo pôr-do-sol!).

Ontei achei (ou melhor, reencontrei) um site muito bacana (pra quem tem esse tipo de interesse bizarro é claro!). O Find A Grave é uma gigantesca base de dados com informações e fotografias sobre o local onde muitas pessoas famosas (e algumas nem tant0) estão aproveitando o seu descanso eterno. Recomendo (para quem compartilha desse meu interesse mórbido, é claro).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Blogs e séries temporais

Estava pensando ontem enquanto voltava para casa: será que algum desocupado já se prestou a pesquisar sobre quanto se posta em média em cada mês? Tenho a leve impressão de que o final de cada ano sempre chega acompanhado por quedas bruscas no número de postagens - uma tendência sazonal dos blogueiros a publicarem menos no mês em que o Papai Noel vai dar uma banda em seu trenó.

Final de semestre já é complicado por definição. Mas o final do primeiro não é nada se comparado com o final do segundo.

Mas chega de falar de coisas lógicas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Politicamente correto

A onda do "politicamente correto" é um fenômeno que encontrou no Brasil uma boa porção de seguidores. A questão é: o brasileiro entende o espírito do politicamente correto ou ele só serve para suavizar a paisagem, enquanto o mundo lá fora desaba?

O resultado desse "afetamento" generalizado, que já passou por todos os setores e poderes da sociedade, é a cunhagem de termos absurdos e que, em alguns casos, parecem deboches maldosos. Minha avó morreu ano passado, aos 78 anos, após sofrer por meses as dores que o câncer lhe impunha. Ao vê-la definhando, em estado quase vegetativo, no leito do hospital, não podia deixar de pensar que o termo "melhor idade" só servia àquela situação como ironia. Da mesma forma, transformar qualquer forma de preconceito em crime é inútil, se medidas efetivas de apoio às minorias discriminadas não forem adotadas. Respeito não é tratamento, gentileza: é comida no prato, educação, moradia e trabalho.

Dignidade não se faz com palavras.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Desonestidade intelectual

Eu tinha um tio-avô que gostava muito de repetir um adágio que ele tirou de não-sei-onde: "Se temos dois ouvidos e apenas uma boca é porque devemos escutar mais do que falar". Essa era a resposta que ele costumava dar a quem lhe importunava para que justificasse seu silêncio.

As pessoas, sem exceção, deveriam apreciar de forma mais justa a sabedoria do meu falecido tio, dada a impressionante inclinação do ser humano a falar merda (ainda mais se está em jogo mostrar que a verdade está do seu lado: daí vira uma questão de vaidade, uma exigência do ego.)

Como já foi ressaltado acima, ninguém se salva dessa mal: todos falam muita besteira, inclusive eu. E como me recrimino e me aborreço por isso! Como me detesto por usar argumentos vazios, retóricos e falaciosos para remendar as inconsistências e paradoxos das minhas verdades furadas, dos meus dogmas, só para não dar o braço a torcer... E o pior é que a cura para esse comportamento não se reduz a um condicionamento trivial: a boca é muito mais veloz do que a razão. (Choques e arames quentes na uretra podem ser tentados, mas o sucesso deste receituário não deverá ser mais do que parcial.)

Camus estava certo: "Um homem vale mais pelo que cala do que pelo que fala".

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Inusitada gratidão

Jamais imaginei que chegaria à conclusão absurda de que os bancos fazem com que eu economize. Soa estranho, controverso, mas é a mais pura verdade.

Sexta-feira passada, eu tinha em cash R$ 110,00. O final de semana foi suficiente para que eu dizimasse essa quantia em besteiras (?) completamente dispensáveis (?), como cerveja, almoço fora e futebol.

Se o dinheiro estivesse guardado no Banco do Brasil ou no Banrisul, seria mais complicado de gastá-lo ou perdê-lo de forma tão perdulária. São várias as razões que concorrem para tal. Citemos algumas:
  • o dinheiro em papel-moeda é patético. Ele é uma representação muito simples de algo muito valioso.
  • o dinheiro em papel-moeda vai se decompondo gradativamente em metal-moeda, cujo valor psicológico e conotativo é, inegavelmente, bem menor.
  • o dinheiro em papel-moeda é a liquidez em excelência: qualquer pessoa aceita, em troca de qualquer coisa em qualquer lugar.
Creio que estas são algumas das razões que, hoje, fizeram com que a minha fúria contra os bancos arrefecesse um pouco.

Obrigado Banrisul. Obrigado Banco do Brasil.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Um resignacionista no rock nacional

Impressionante o tempo que demorei a perceber que o Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, é um dos muitos entusiastas e disseminadores do Resignacionismo esoalhados pelo mundo! A predileção do vocalista pelos sábios postulados resignacionistas fica claro neste trecho de Condicional:
o que eu fazia, o que eu queria,
o que mais, que alguma coisa
a gente tem que amar, mas o quê?
não sei mais!
É o Resignacionismo dominando o Planeta! :D

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Talento e Disciplina

Talento sem Disciplina é de pouca valia.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Le Resignacionism

Todo grande homem deve amparar sua conduta e, por extensão, sua existência em alguma grande filosofia. Como eu sou um destes grandes homens busquei a minha. Insatisfeito com os delírios de Nietzsche, as brumas sartreanas, o senso de humor sofista, o rigor hegeliano e a falta de academicidade (ou demasiada heteroxia) do saber do morro, apelei para a minha jorrante criatividade e fundei minha própria e excepcional (no sentido de genial, não de freqüentador da APAE) escola de pensamento: O Resignacionismo (do francês, le resignacionism).

Em vantagem às fracas teorias já existentes, o resignacionismo ensina o indivíduo a lidar com as coincidências e surpresas do dia-a-dia: é a fundamentação teórica do blasé, do tédio, do desinteresse. Portanto, trata-se de uma filosofia mal-humorada, mas pródiga em charme.

Na prática, para aderir ao resignacionismo, poucos esforços são necessários, pois trata-se, simplificadamente, de aprender a se expressar de forma a destituir de excitação as grandes bizarrices do cotidiano.

É fácil. Quando aquele amigo lhe contar que viu um colega do jardim B de quem ele não tinha notícias havia vinte anos, no shopping, você ponderará, sem o menor interesse: "Afinal, ele tinha que estar em algum lugar"; quando aquela amiga lhe segredar horrorizada que viu o ex ficando com um canhão, a reação será idêntica: "Afinal, ele tinha de ficar com alguém"; ou se vierem com um "tu nem sabe o absurdo!, o fulano está com o cabelo verde, um horror!". Uma seca e moderada dose de resignacionismo será suficiente para amainar a empolgação do indignado interlocutor: "Afinal, ele tinha que ter o cabelo de alguma cor, não é mesmo?"

Em última análise, o resignacionismo é um método eficiente para se livrar daquelas conversas fofoqueiras e desinteressantes, que em nada contribuem para o aperfeiçoamento do espírito - pelo contrário.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Errata

Ironicamente, o título do post "Sentido e Conotação" foi vítima do próprio vício que o texto critica. E ninguém se deu conta disso (não pensem que foi algo do tipo "peguei vocês!" porque eu também não me dei conta).

Explico. Sentido e conotação, neste caso, são termos análogos. Onde escrevi sentido, deveria constar significado, pois eu estava confrontando os aspectos diferentes, as faces distintas que as palavras, aos nossos olhos (?), apresentam. O ouvido de músico, no entanto, deve ter optado por sentido por se tratar de um termo mais sonoro, mais conforme às suas obsessões estéticas.

Não é de se admirar que, no entanto, ninguém tenha reparado nessa redundância. No fundo, todos que leram e comentaram o texto compreenderam qual era a minha intenção. Como conotação soa mais forte do que sentido, estabeleceu-se uma relação de hierarquia entre as duas palavras que, embora equivocada, surtiu o efeito desejado; ou seja, consegui opôr uma a outra, como tensionava fazer através da "escolha original" - se é que em algum nível mental ela aflorou em algum momento.

Nunca o significado pretere a aparência. Assim, perdoemos os fúteis: eles fazem honestamente o que nós - metidos a besta, acadêmicos letrados de meiatigela, intelectuais de botequim - fingimos não fazer. A eles, o céu da alegria fácil, terrena, tangível; a nós, o inferno da tacanheza enrustida.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sentido e conotação

Estava com a patroa, esses dias, quando me ocorreu uma dessas percepções que surgem do nada. Como a maioria das idéias que brotam do ócio cerebral, subconsciente, não é lá de grande valia. Mas vamos a ela.

É impressionante como, em qualquer ato que envolva o uso da linguagem, somos guiados menos pelo significado das palavras do que pela sua conotação. (Ok, eu não precisei de 24 anos para chegar a essa conclusão um tanto óbvia) Desse fenômeno não escapam as mais sutis variações de um termo - isto é, duas expressões com exatamente o mesmo significado podem tomaram conotações diametralmente opostas.

O exemplo que me ocorreu foi o uso do adjetivo colonial e de sua locução equivalente de colono.

Quando nos referimos a móveis coloniais, café colonial e arquitetura colonial, todo mundo fica satisfeito e estampa um sorriso no rosto: trata-se, para a maioria das pessoas, de objetos de fetiche. Por outro lado, sua irmã gêmea de colono tem um sentido completamente negativo. Quando se quer xingar alguém por algo feito com pouca perícia, nas coxas, se chama essa pessoa de colono; quando alguém exaltar o orgulho de nascer na capital diante uma pessoa que veio do interior, a chama de colono. Em síntese, colono é sinônimo de tosco, grosseiro.

Pelo uso figurado que fazemos de certas palavras, esquecemos seu sentido original. Notem que, no sentido dicionaresco, colonial e de colono são exatamente a mesma coisa, qualificam de forma igual. No entanto, ninguém se deslocaria até Gramado para tomar um café de colono, nem pagaria fortunas por móveis de colono. Arquitetura de colono seria algo como uma cabana de paredes feitas de palha e estrume de vaca.

Na boa, colonos somos nós.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Férias

Fim de semestre, finalmente.

O alívio da constatação acima fica por conta, principalmente, da última quinzena - heróica praticamente. Movi mundos e fundos e paguei toda a vagabundagem que eu tinha adiantado durante o semestre. A breve e intensiva dedicação valeu: passei em todas as disciplinas (sendo que, em algumas, alcancei conceito superior ao esperado). Embora tenha sido exaustivo passar noites em claro debruçado sobre os livros, foi uma boa experiência. Acho que resgatei um pouco do tesão que tinha por estudar, coisa que não me vinha desde a época do colégio (se bem que naquela época eu não estudava por que gostava, mas por ser obrigado). Tomara que essa crise de CDF se estenda para os semestres que vem por aí, embora não acredite muito. Me conheço bem.

Agora, é planejar algo para fazer no tempo livre que apareceu. Pensei em ir ao teatro, ao cinema, essas coisas que eu gosto tanto de fazer e igualmente há tanto tempo não faço... Quem sabe tirar da gaveta aquele conto que ficou no primeiro capítulo e me aventurar por mais uma ou duas partes... Terminar de ler a biografia do Maquiavel e "Os Irmãos Karamázovi"... Mas, sobretudo, trocar o colocar um espelho do banheiro.