segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sentido e conotação

Estava com a patroa, esses dias, quando me ocorreu uma dessas percepções que surgem do nada. Como a maioria das idéias que brotam do ócio cerebral, subconsciente, não é lá de grande valia. Mas vamos a ela.

É impressionante como, em qualquer ato que envolva o uso da linguagem, somos guiados menos pelo significado das palavras do que pela sua conotação. (Ok, eu não precisei de 24 anos para chegar a essa conclusão um tanto óbvia) Desse fenômeno não escapam as mais sutis variações de um termo - isto é, duas expressões com exatamente o mesmo significado podem tomaram conotações diametralmente opostas.

O exemplo que me ocorreu foi o uso do adjetivo colonial e de sua locução equivalente de colono.

Quando nos referimos a móveis coloniais, café colonial e arquitetura colonial, todo mundo fica satisfeito e estampa um sorriso no rosto: trata-se, para a maioria das pessoas, de objetos de fetiche. Por outro lado, sua irmã gêmea de colono tem um sentido completamente negativo. Quando se quer xingar alguém por algo feito com pouca perícia, nas coxas, se chama essa pessoa de colono; quando alguém exaltar o orgulho de nascer na capital diante uma pessoa que veio do interior, a chama de colono. Em síntese, colono é sinônimo de tosco, grosseiro.

Pelo uso figurado que fazemos de certas palavras, esquecemos seu sentido original. Notem que, no sentido dicionaresco, colonial e de colono são exatamente a mesma coisa, qualificam de forma igual. No entanto, ninguém se deslocaria até Gramado para tomar um café de colono, nem pagaria fortunas por móveis de colono. Arquitetura de colono seria algo como uma cabana de paredes feitas de palha e estrume de vaca.

Na boa, colonos somos nós.

7 comentários:

Débora disse...

Nada a ver com o post, mas sigo esperando o espelho.

Amy Mizuno disse...

huahauhauhauahuahu
compra logo esse espelho, Pato!!!!!
E é verdade, nós, pessoas iluminadas de Caxias, sofremos muito sendo chamados de Colonos
hehehehehhehe
Colono = Ogro, grosso, estúpido.

Pato disse...

Aff. Ainda hoje eu "orço" esse maldito espelho. >|

Anônimo disse...

"no sentido dicionaresco, colonial e de colono são exatamente a mesma coisa,"

Discor completamente!
Segundo o Aurélio:
Colonial: Relativo a colônia ou a colonos

Assim, no caso do Café, dos Móveis e da Arquitetura colonial a locução equivalente seria "da colonia". Referindo assim ao local de origem e não aos colonos.
Seguindo esse raciocinio, dizer que um produto vem da colonia é diferente do que dizer que um produto foi feito por um colono.

A pregunta que surge é: por que dessa diferença se podemos definir colono como "membro de uma colonia" segundo o proprio Aurélio?

Acho que diferenciamos a cultura da colonia(comida, arquitetua, mobiliario) vindas da Europa com os imigrantes que colonizaram o RS,
do trabalho(agricultura) do colono realizado nas colonias do RS.



Acho que vou criar um blog pra mim e parar de ficar divagando nos blog dos outros.

Anônimo disse...

OBS: pato, ve se compra um espelho colonial e nao um espelho de colono

Anônimo disse...

heheh!
Excelente e divertido post.

Quanto ao ótimo comentário do Risco, embora ele tenha feito a importante diferenciação semântica entre "colonial" e "de colono", acho que, no prática, dá quase na mesma.

Afinal, dizer que um objeto é da colônia tem bem menos glamour do que dizer que o mesmo é um objeto colonial.

Os preconceitos quanto a pessoas do interior -- que, para os nascidos na Capital, são todos agricultores, caipiras, ignorantes --, mesmo que de uma forma mais ou menos velada, são totalmente perceptíveis, de fato.

Enfim, também divaguei. =D

Afinal, quando sai aquele café? =)

Abraço, Pato!

PS: tinha dado férias para meu blog também, mas já voltei do recesso. hehe

Pato disse...

Café? Só se for colonial! ;D
Estou na UFRGS quase todos os dias (mais por obrigação do que por inclinação, é verdade). Se fores passar por lá essa semana, entre em contato: quem sabe o tão especulado café não rola? ;D