domingo, 18 de janeiro de 2009

Arbitrariedade

Tem muitos blogs por aí debochando daqueles que ficaram insatisfeitos com a reforma ortográfica. Nem pra melhor, nem pra pior, trata-se de um conjunto arbitrário de alterações sobre a forma de grafar em português, nada mais do que isso.

Como foi uma mudança feita na base do canetaço - sem que houvesse nenhuma demanda real por ela, ou mesmo uma diretriz norteadora teórica para o projeto - é natural que todos os elogios ou críticas que surjam a ela sejam também arbitrários.

Já li de tudo por aí, tanto a favor quanto contra. O que se constata é que, no fundo, todas as opiniões são baseadas no gosto individual de quem critica - uma forma bem subjetiva de se basear um argumento.

Num blog, dizem que o trema é o acento mais antipático da língua portuguesa. Eu, por exemplo, deixo esta posição para o til. Aliás, para mim, o trema era o sinal mais bacana da língua de Camões. Utilizar a antipatia do trema como argumento, pesa mais contra o seu autor do que contra o próprio acento - da mesma forma que se valer de lisonjas para defendê-lo.

Noutro blog, o autor conclamáva-nos à resignação diante da reforma com uma retórica do tipo: "Os brasileiros terão que mudar a grafia de menos de 1% de suas palavras, enquanto os portugueses terão que mudar 3%". Um argumento tão bom que me levou a considerar não trocar mais de carro, afinal eu tenho um Uno 92, enquanto o meu vizinho não tem automóvel algum. E os "argumentos" se seguem interminavelmente nesta tônica.

O que fica claro é que a reforma carece de fundamentação teórica, visto que não há elementos dentro da própria língua que advoguem a favor ou contra ela. Dela só saem perdendo os entusiastas do trema, do hífen e dos ditongos abertos acentuados. Aos demais, as batatas.