Que o Brasil é a república da nivelação por baixo, da valorização do coitado, do imbecil em detrimento do
competente e capaz não é nenhuma novidade. Mas a velocidade com que certas atrocidades populistas vêm sendo cometidas nestes últimos meses tem me
assustado bastante.
Primeiro foram as cotas racistas na
UFRGS, o
mensalão do ensino superior brasileiro: se a tua universidade adere, ganha um repasse maior. Agora essa ridícula unificação da língua portuguesa.
Li em alguns lugares gramáticos, intelectuais e escritores dizendo que, com essa reforma, a última flor do
Lácio ficaria menos inculta, mais regular. Não é necessário se aprofundar muito em questões ortográficas para ver a enorme besteira contida nessa afirmação. Basta ver o caso da abolição da trema.
A trema serve, principalmente, para, indicar quando as consoantes G e Q - ao serem seguidas pela vogal U - são duras (fortes) ou fracas. Se ela aparece, U deve ser pronunciado, tornando a consoante antecedente fraca. Se ela não aparece, o U deve ser mudo e a consoante deve ser dura. No primeiro caso, temos palavras como
lingüiça, na qual o U deve ser pronunciado; no segundo, temos
conquista, na qual o U é mudo e o Q é pronunciado forte, com a sonoridade de K.
Ao riscarmos a trema dos nossos acentos, ficará impossível distinguir a ocorrência ou não de G e Q fracos ou fortes. Em outras palavras, pronunciar
corretamente uma palavra através de sua leitura, dependerá de conhecimento prévio de sua fonética. Como teríamos certeza de que
lingüiça se pronuncia como
lingüiça e não linguiça se nunca tivéssemos ouvido essa palavra antes? Com a trema, jamais teríamos tal dúvida! Sem a trema, a dúvida aparece, pois sempre haveria duas pronuncias possíveis: com o U aparente ou com ele mudo. Assim, a queda do trema gera a irregularidade.
Mais uma vez, o país retrocede e faz o contrário. Premia a vagabundagem, o desleixo e tripudia em quem leva as regras a sério e se esforça - este está fadado a ser o eterno
CDF caricato, motivo de chacota pela turma da escola. Ao invés de melhorar o ensino básico, facilita o ingresso no superior. Ao invés de melhorar o ensino da língua portuguesa nas escolas, a simplifica.
Nestas horas eu penso no pobre que sempre foi aluno esforçado e, apesar das adversidades que a condição social lhe impôs, conseguiu êxito e alcançou uma vaga na Universidade pública. Graças a esse governo de merda, populista e
bem intencionado, o sujeito do meu exemplo vai se
foder a vida inteira, carregando a aura do deitado, do sem-vergonha, do vagabundo, por ter sido justamente o contrário! À
cretinice tudo, ao mérito nada!
Vergonha nacional é pouco!