quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Feira

A Feira do Livro é provavelmente o evento mais festejado da Província; é um fetiche de todo porto-alegrense - inclusive daquele que não lê.

Ainda não encontrei um tempinho para dar um passeio pelos estandes da Praça. Naturalmente, há os sábados e domingos; só que nestes dias a Feira é invadida pela turba que resolveu trocar o Praia de Belas para bancar o cult, o que torna inglória e desmotivante qualquer tentativa de passeio. Quando tinha 17, 18 anos, tempo para freqüentar a Feira em horários de pouco movimento não era problema. Sempre se podia matar o cursinho e passar a tarde por lá, vagabundeando e revirando os saldos, os folclóricos balaios (que, aliás, são a alma do evento). Agora, com o tempo contadinho, a peregrinação literária vai ter que esperar pela próxima semana.

A lista de compras ainda não vingou. Até agora, só dois títulos:
  • Plataforma, Michel Houellebecq
  • Jogo de Amarelinha, Julio Cortazar
Além destes, certamente vou acabar comprando um ou outro livro de Matemática e Economia, para não perder o hábito; isso sem falar em alguma Agatha Christie para ler como se faz palavras cruzadas - nada muito sério.

Sugestões?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Politicamente correto

A onda do "politicamente correto" é um fenômeno que encontrou no Brasil uma boa porção de seguidores. A questão é: o brasileiro entende o espírito do politicamente correto ou ele só serve para suavizar a paisagem, enquanto o mundo lá fora desaba?

O resultado desse "afetamento" generalizado, que já passou por todos os setores e poderes da sociedade, é a cunhagem de termos absurdos e que, em alguns casos, parecem deboches maldosos. Minha avó morreu ano passado, aos 78 anos, após sofrer por meses as dores que o câncer lhe impunha. Ao vê-la definhando, em estado quase vegetativo, no leito do hospital, não podia deixar de pensar que o termo "melhor idade" só servia àquela situação como ironia. Da mesma forma, transformar qualquer forma de preconceito em crime é inútil, se medidas efetivas de apoio às minorias discriminadas não forem adotadas. Respeito não é tratamento, gentileza: é comida no prato, educação, moradia e trabalho.

Dignidade não se faz com palavras.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Elitismo?

Sabe quando levamos por anos uma ideiazinha na cabeça sem entretanto formulá-las de forma satisfatória e, um belo dia, a encontramos impecavelmente apresentada?

Meus alunos relativistas se sentem valorizados por uma teoria niveladora que põe sua banda de rock favorita em pé de igualdade com Bach e Mozart; mas repare como uma hierarquia qualitativa lhes volta correndo quando, em nome da coerência, você sugere que sua banda de rock favorita também não pode ser melhor que os Backstreet Boys (…). As velhas dicotomias entre o que é elitista e o que é popular, entre alta e baixa cultura, podem estar mesmo corrompidas por privilégios injustificáveis, mas sem uma nova linguagem de mérito para as artes os pós-modernistas são forçados a viver numa paisagem achatada onde Barry Manilow e Beethoven são iguais.


Stephen T. Asma na revista americana The Chronicle of Higher Education



Citação copiada de P.Q.P. Bach, flor baguala no meio do manantial virtual.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Mendigo

Urge que eu corte o cabelo e faça a barba, antes que a prefeitura me recolha, por engano (?), para algum albergue.

E ai de quem concordar com isso.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Desonestidade intelectual

Eu tinha um tio-avô que gostava muito de repetir um adágio que ele tirou de não-sei-onde: "Se temos dois ouvidos e apenas uma boca é porque devemos escutar mais do que falar". Essa era a resposta que ele costumava dar a quem lhe importunava para que justificasse seu silêncio.

As pessoas, sem exceção, deveriam apreciar de forma mais justa a sabedoria do meu falecido tio, dada a impressionante inclinação do ser humano a falar merda (ainda mais se está em jogo mostrar que a verdade está do seu lado: daí vira uma questão de vaidade, uma exigência do ego.)

Como já foi ressaltado acima, ninguém se salva dessa mal: todos falam muita besteira, inclusive eu. E como me recrimino e me aborreço por isso! Como me detesto por usar argumentos vazios, retóricos e falaciosos para remendar as inconsistências e paradoxos das minhas verdades furadas, dos meus dogmas, só para não dar o braço a torcer... E o pior é que a cura para esse comportamento não se reduz a um condicionamento trivial: a boca é muito mais veloz do que a razão. (Choques e arames quentes na uretra podem ser tentados, mas o sucesso deste receituário não deverá ser mais do que parcial.)

Camus estava certo: "Um homem vale mais pelo que cala do que pelo que fala".

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Passe Livre


E, afinal, quem não tem R$ 2,00 no bolso vai fazer o que na rua?

Inusitada gratidão

Jamais imaginei que chegaria à conclusão absurda de que os bancos fazem com que eu economize. Soa estranho, controverso, mas é a mais pura verdade.

Sexta-feira passada, eu tinha em cash R$ 110,00. O final de semana foi suficiente para que eu dizimasse essa quantia em besteiras (?) completamente dispensáveis (?), como cerveja, almoço fora e futebol.

Se o dinheiro estivesse guardado no Banco do Brasil ou no Banrisul, seria mais complicado de gastá-lo ou perdê-lo de forma tão perdulária. São várias as razões que concorrem para tal. Citemos algumas:
  • o dinheiro em papel-moeda é patético. Ele é uma representação muito simples de algo muito valioso.
  • o dinheiro em papel-moeda vai se decompondo gradativamente em metal-moeda, cujo valor psicológico e conotativo é, inegavelmente, bem menor.
  • o dinheiro em papel-moeda é a liquidez em excelência: qualquer pessoa aceita, em troca de qualquer coisa em qualquer lugar.
Creio que estas são algumas das razões que, hoje, fizeram com que a minha fúria contra os bancos arrefecesse um pouco.

Obrigado Banrisul. Obrigado Banco do Brasil.