terça-feira, 4 de novembro de 2008

Feira do Livro I

A Feira do Livro é o emblema-mór do provincianismo porto-alegrense. Por pouco mais de duas semanas, os gaúchos da capital ganham o direito de se apinhar entre os estandes - fazendo de conta que lêem muito -, freqüentar as atividades pretensiosas e pseudocults promovidas pela Feira e, o melhor!, serem galardoados com autógrafos de sumidades do conhecimento e da cultura ocidental como Humberto Gessinger, Anonymous Gourmet, Luís Augusto Fischer, Luís Fernando Veríssimo, entre outras deidades gaudérias.

Logo no domingo, caí na asneira da assistir um espetáculo cênico-musical sobre 1984, do George Orwell. (Teria sido extremamente proveitoso se, no site da Feira, constasse que a montagem era livremente inspirada no livro.) O que presenciei foi de rara medonhice: uma coleção de canções (dessas que tu escuta na praça de alimentação de um shopping) falando sobre amor, interpolada por falas no melhor estilo Ursinhos Carinhosos: "O mundo seria um lugar muito melhor se houvesse sobre a cabeça de cada um de nós uma lâmpada que acendesse quando mentimos". Uma tentativa pretensiosa de transformar 1984 na última coisa que ele é: a bandeira do mundo melhor preconizado pelas esquerdas. Não resisti até o final.

O bom é que, com o passar do tempo, tu deixa de te iludir com certas coisas. Estou bem mais tolerante com a Feira neste ano do que no passado, pois, desta vez, ao contrário das edições anteriores, não tinha a intenção de encontrar na Praça da Alfândega a salvação terrena. Um passeio minimamente agradável já me bastaria.

Comprei alguns livros, mas isso fica para um próximo post.

3 comentários:

Mari disse...

sinceramente detesto a feira do livro. é tudo o mesmo preço no fim das contas e o pior: nao aceitam cartao de credito hahahah ou pelo menos na minha epoca nao aceitavam, vai saber. agora essa encenação ae... deve ter sido o ó. livremente inspirado... essa é boa. bjitos

Unknown disse...

Mas-Colell a 123 pilinhas na feira do livro. Boa hora pra termos bons economistas, não?

Amy Mizuno disse...

Eu vi o Mass-Collel mesmo. E agora aceitam cartão de crédito. Acho que tu é que não sabe escolher as atividades. Fui na aula-espetáculo do Ariano e numa apresentação de músicas do Cartola. Gostei de ambas. Confesso que também não me agrada a feira e poucas foram as atividades que me fizeram sair de casa.