segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Feliz Ano-Novo?

Que me perdoem os leitores pelo clichê de recorrer ao Drummond, mas condenar um porto-provinciano-alegrense - tão apegado ao folclore - por cometer clichês chega a ser uma heresia.

Receita de ano novo

(Por Carlos Drummond de Andrade, copiado daqui.)


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

* * *

Meus votos de anos-novos todos os dias e de viradas a cada instante. :D

sábado, 22 de dezembro de 2007

Compras de Natal

Há umas semanas - quando eu estava desfrutando de alguns instantes de lazer na bolsa - resolvi antecipar as compras natalinas adquirindo todos os presentes pela Internet. Foi uma barbada. Em 15min eu tinha resolvido todos os presentes. Daí me dei conta que estava sem o cartão de crédito e - como eu não sei o número decor - foi impossível concretizar a transação. Acabei deixando o assunto de lado e optando pela via tradicional: os shoppings e lojas de verdade.

Como já era esperado, me arrependi profundamente. Hordas bárbaras, dificuldade de localizar itens, filas imensas. Eis o prêmio pela minha burrice.

Fica aqui um conselho: sempre que possível, façam compras pela Internet. A menos que você seja mulher e curta o caos de um shopping lotado. Pra quem prefere ficar de pijama em casa no ar-condicionado e tomando uma cerveja, fica a dica.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Houellebecq

O primeiro final-de-semana de férias da faculdade pode ser classificado, sem muita titubeação, de produtivo. Conclui a leitura do Plataforma, do Michel Houellebecq, e recomendo fortemente àqueles que não tem um estômago politicamente correto e não se sentem ofendidos com apologias ao turismo sexual.

(Para quem nunca teve contato com a sua obra, a temática desenvolvida nos seus romances é extremamente simples de ser situada: o papel-chave que o sexo desempenha na dinâmica social.)

O francês - que vive isolado num sítio no interior da Irlanda - não deixa passar nada incólume: naturalistas, idosos, vegetarianos, puristas, politicamente corretos, ocidente, oriente, consumo, islã. Nada se salva da mordacidade cáustica e seca de Michel.

Fortemente recomendado.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Blogs e séries temporais

Estava pensando ontem enquanto voltava para casa: será que algum desocupado já se prestou a pesquisar sobre quanto se posta em média em cada mês? Tenho a leve impressão de que o final de cada ano sempre chega acompanhado por quedas bruscas no número de postagens - uma tendência sazonal dos blogueiros a publicarem menos no mês em que o Papai Noel vai dar uma banda em seu trenó.

Final de semestre já é complicado por definição. Mas o final do primeiro não é nada se comparado com o final do segundo.

Mas chega de falar de coisas lógicas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Gastos




terça-feira, 20 de novembro de 2007

SUS. Capítulo I.

O cidadão das classes média e alta tem uma idéia do que é a saúde pública no Brasil, mesmo nunca utilizando seus préstimos; no entanto o caos em que esta se encontra passa, com certeza, longe da sua compreensão. Para entender alguma situação é necessário vivenciá-la, senão as conclusões tiradas se restringem a meras abstrações amparadas em mitos. Para compreender de fato é necessário sentir na pele.

No meu caso, a lição do "caos do SUS" passou da teoria para a prática na última quarta-feira, quando, ao me levantar, não consegui encostar o pé esquerdo no chão. Uma dor feroz, uma queimação medonha tomava o peito dele. Era estranho porque eu não havia chutado nenhum pé de mesa, armário ou que quer que fosse, tampouco havia jogado bola nos últimos dias. Mas não sentia nada quebrado. Era uma dor diferente, algo rasgando. Como uma tendinite. Achei bizarra a idéia de ter tendinite nos pés e, após descer de bunda a escada, embarquei num taxi até a clínica Santo Antônio para encarar o calvário da saúde pública.

Chegando lá, estava apinhado de gente. As pessoas se empoleiravam nos bancos de churrasco que atravessavam a sala de espera em todas as direções, sem falar nas duas salinhas contíguas a esta, igualmente cheias. Peguei a minha ficha e fui sentar. Após uns 15 minutos, a atendente chamou meu número e fez a minha ficha. Sentei novamente e não levantei tão cedo. O atendimento era dividido por grupos, que demoravam por volta de 45 minutos a uma hora nas dependências da clínica propriamente dita. E nesse período largo de espera, mais e mais pessoas iam chegando e se alocando onde fosse possível. Todas com cara de bunda, mal-humoradas. Na verdade era pouco para aquela situação; elas deveriam estar furiosas por perderem o seu tempo de forma tão tediosa e inútil. Uma crueldade - ainda mais para quem tem emprego, filhos pra cuidar, uma casa para manter (o que, felizmente, não era o meu caso). Pena eu não ter trazido o Plataforma. A demora teria sido bem menos penosa.

A porta se abriu novamente e me chamaram. Pulei num pé só até as entranhas da clínica e me acomodei resignado em uma cadeira, preparado para mais alguma espera.

(Não perca o próximo episódio do drama real de um pequeno burguês filhinho de papai que se meteu com a turminha do SUS e agora terá de encarar confusões tamanho família! Na próxima segunda, após mais um capítulo inédito de Vale a Pena Ver de Novo.)

domingo, 11 de novembro de 2007

Fraldas

Hoje, quando estava no Zaffari comprando a pizza congelada e a garrafa de Coca-Cola - meu jantar saudável e nutritivo -, tive uma lancinante vontade de mijar. Subi as escadas que levam até o banheiro e SURPRESA!: "Este banheiro encontra-se interditado."

(É o terceiro ou quarto domingo em que me deparo com o banheiro do Zaffari "interditado".)

Como não podia perder a piada, ao pagar, perguntei para a mocinha do caixa se eles trabalhavam com fraldas. Ela não entendeu muito bem e começou a me indicar o corredor onde ficavam as fraldas. Daí eu expliquei: "É que o banheiro está interditado, então imagino que os funcionários trabalhem de fraldas..." A guria ficou vermelha e começou a rir freneticamente. Quase se mijou (o que não seria problema, se ela estivesse realmente de fraldas...)

Bela estratégia essa do Zaffari. Como aos domingos as imediações do supermercado são tomadas por aquela gurizada de preto tomando Bellinha e vinho em garrafa pet, o supermercado, para evitar a total devastação dos sanitários, opta por fechá-los completamente (o azar é dos clientes!). E ainda tem a caradepau de dizer que está "interditado".

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Feira

A Feira do Livro é provavelmente o evento mais festejado da Província; é um fetiche de todo porto-alegrense - inclusive daquele que não lê.

Ainda não encontrei um tempinho para dar um passeio pelos estandes da Praça. Naturalmente, há os sábados e domingos; só que nestes dias a Feira é invadida pela turba que resolveu trocar o Praia de Belas para bancar o cult, o que torna inglória e desmotivante qualquer tentativa de passeio. Quando tinha 17, 18 anos, tempo para freqüentar a Feira em horários de pouco movimento não era problema. Sempre se podia matar o cursinho e passar a tarde por lá, vagabundeando e revirando os saldos, os folclóricos balaios (que, aliás, são a alma do evento). Agora, com o tempo contadinho, a peregrinação literária vai ter que esperar pela próxima semana.

A lista de compras ainda não vingou. Até agora, só dois títulos:
  • Plataforma, Michel Houellebecq
  • Jogo de Amarelinha, Julio Cortazar
Além destes, certamente vou acabar comprando um ou outro livro de Matemática e Economia, para não perder o hábito; isso sem falar em alguma Agatha Christie para ler como se faz palavras cruzadas - nada muito sério.

Sugestões?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Politicamente correto

A onda do "politicamente correto" é um fenômeno que encontrou no Brasil uma boa porção de seguidores. A questão é: o brasileiro entende o espírito do politicamente correto ou ele só serve para suavizar a paisagem, enquanto o mundo lá fora desaba?

O resultado desse "afetamento" generalizado, que já passou por todos os setores e poderes da sociedade, é a cunhagem de termos absurdos e que, em alguns casos, parecem deboches maldosos. Minha avó morreu ano passado, aos 78 anos, após sofrer por meses as dores que o câncer lhe impunha. Ao vê-la definhando, em estado quase vegetativo, no leito do hospital, não podia deixar de pensar que o termo "melhor idade" só servia àquela situação como ironia. Da mesma forma, transformar qualquer forma de preconceito em crime é inútil, se medidas efetivas de apoio às minorias discriminadas não forem adotadas. Respeito não é tratamento, gentileza: é comida no prato, educação, moradia e trabalho.

Dignidade não se faz com palavras.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Elitismo?

Sabe quando levamos por anos uma ideiazinha na cabeça sem entretanto formulá-las de forma satisfatória e, um belo dia, a encontramos impecavelmente apresentada?

Meus alunos relativistas se sentem valorizados por uma teoria niveladora que põe sua banda de rock favorita em pé de igualdade com Bach e Mozart; mas repare como uma hierarquia qualitativa lhes volta correndo quando, em nome da coerência, você sugere que sua banda de rock favorita também não pode ser melhor que os Backstreet Boys (…). As velhas dicotomias entre o que é elitista e o que é popular, entre alta e baixa cultura, podem estar mesmo corrompidas por privilégios injustificáveis, mas sem uma nova linguagem de mérito para as artes os pós-modernistas são forçados a viver numa paisagem achatada onde Barry Manilow e Beethoven são iguais.


Stephen T. Asma na revista americana The Chronicle of Higher Education



Citação copiada de P.Q.P. Bach, flor baguala no meio do manantial virtual.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Mendigo

Urge que eu corte o cabelo e faça a barba, antes que a prefeitura me recolha, por engano (?), para algum albergue.

E ai de quem concordar com isso.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Desonestidade intelectual

Eu tinha um tio-avô que gostava muito de repetir um adágio que ele tirou de não-sei-onde: "Se temos dois ouvidos e apenas uma boca é porque devemos escutar mais do que falar". Essa era a resposta que ele costumava dar a quem lhe importunava para que justificasse seu silêncio.

As pessoas, sem exceção, deveriam apreciar de forma mais justa a sabedoria do meu falecido tio, dada a impressionante inclinação do ser humano a falar merda (ainda mais se está em jogo mostrar que a verdade está do seu lado: daí vira uma questão de vaidade, uma exigência do ego.)

Como já foi ressaltado acima, ninguém se salva dessa mal: todos falam muita besteira, inclusive eu. E como me recrimino e me aborreço por isso! Como me detesto por usar argumentos vazios, retóricos e falaciosos para remendar as inconsistências e paradoxos das minhas verdades furadas, dos meus dogmas, só para não dar o braço a torcer... E o pior é que a cura para esse comportamento não se reduz a um condicionamento trivial: a boca é muito mais veloz do que a razão. (Choques e arames quentes na uretra podem ser tentados, mas o sucesso deste receituário não deverá ser mais do que parcial.)

Camus estava certo: "Um homem vale mais pelo que cala do que pelo que fala".

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Passe Livre


E, afinal, quem não tem R$ 2,00 no bolso vai fazer o que na rua?

Inusitada gratidão

Jamais imaginei que chegaria à conclusão absurda de que os bancos fazem com que eu economize. Soa estranho, controverso, mas é a mais pura verdade.

Sexta-feira passada, eu tinha em cash R$ 110,00. O final de semana foi suficiente para que eu dizimasse essa quantia em besteiras (?) completamente dispensáveis (?), como cerveja, almoço fora e futebol.

Se o dinheiro estivesse guardado no Banco do Brasil ou no Banrisul, seria mais complicado de gastá-lo ou perdê-lo de forma tão perdulária. São várias as razões que concorrem para tal. Citemos algumas:
  • o dinheiro em papel-moeda é patético. Ele é uma representação muito simples de algo muito valioso.
  • o dinheiro em papel-moeda vai se decompondo gradativamente em metal-moeda, cujo valor psicológico e conotativo é, inegavelmente, bem menor.
  • o dinheiro em papel-moeda é a liquidez em excelência: qualquer pessoa aceita, em troca de qualquer coisa em qualquer lugar.
Creio que estas são algumas das razões que, hoje, fizeram com que a minha fúria contra os bancos arrefecesse um pouco.

Obrigado Banrisul. Obrigado Banco do Brasil.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Um resignacionista no rock nacional

Impressionante o tempo que demorei a perceber que o Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, é um dos muitos entusiastas e disseminadores do Resignacionismo esoalhados pelo mundo! A predileção do vocalista pelos sábios postulados resignacionistas fica claro neste trecho de Condicional:
o que eu fazia, o que eu queria,
o que mais, que alguma coisa
a gente tem que amar, mas o quê?
não sei mais!
É o Resignacionismo dominando o Planeta! :D

Nivelando por baixo II

Que o Brasil é a república da nivelação por baixo, da valorização do coitado, do imbecil em detrimento do competente e capaz não é nenhuma novidade. Mas a velocidade com que certas atrocidades populistas vêm sendo cometidas nestes últimos meses tem me assustado bastante.

Primeiro foram as cotas racistas na UFRGS, o mensalão do ensino superior brasileiro: se a tua universidade adere, ganha um repasse maior. Agora essa ridícula unificação da língua portuguesa.

Li em alguns lugares gramáticos, intelectuais e escritores dizendo que, com essa reforma, a última flor do Lácio ficaria menos inculta, mais regular. Não é necessário se aprofundar muito em questões ortográficas para ver a enorme besteira contida nessa afirmação. Basta ver o caso da abolição da trema.

A trema serve, principalmente, para, indicar quando as consoantes G e Q - ao serem seguidas pela vogal U - são duras (fortes) ou fracas. Se ela aparece, U deve ser pronunciado, tornando a consoante antecedente fraca. Se ela não aparece, o U deve ser mudo e a consoante deve ser dura. No primeiro caso, temos palavras como lingüiça, na qual o U deve ser pronunciado; no segundo, temos conquista, na qual o U é mudo e o Q é pronunciado forte, com a sonoridade de K.

Ao riscarmos a trema dos nossos acentos, ficará impossível distinguir a ocorrência ou não de G e Q fracos ou fortes. Em outras palavras, pronunciar corretamente uma palavra através de sua leitura, dependerá de conhecimento prévio de sua fonética. Como teríamos certeza de que lingüiça se pronuncia como lingüiça e não linguiça se nunca tivéssemos ouvido essa palavra antes? Com a trema, jamais teríamos tal dúvida! Sem a trema, a dúvida aparece, pois sempre haveria duas pronuncias possíveis: com o U aparente ou com ele mudo. Assim, a queda do trema gera a irregularidade.

Mais uma vez, o país retrocede e faz o contrário. Premia a vagabundagem, o desleixo e tripudia em quem leva as regras a sério e se esforça - este está fadado a ser o eterno CDF caricato, motivo de chacota pela turma da escola. Ao invés de melhorar o ensino básico, facilita o ingresso no superior. Ao invés de melhorar o ensino da língua portuguesa nas escolas, a simplifica.

Nestas horas eu penso no pobre que sempre foi aluno esforçado e, apesar das adversidades que a condição social lhe impôs, conseguiu êxito e alcançou uma vaga na Universidade pública. Graças a esse governo de merda, populista e bem intencionado, o sujeito do meu exemplo vai se foder a vida inteira, carregando a aura do deitado, do sem-vergonha, do vagabundo, por ter sido justamente o contrário! À cretinice tudo, ao mérito nada!

Vergonha nacional é pouco!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Talento e Disciplina

Talento sem Disciplina é de pouca valia.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Mediocridade

Uma dessas agências aliciadoras de estudantes para trabalhar nos EUA anda espalhando cartazes com um slogan no mínimo curioso: "ORGULHE-SE DO SEU CURRÍCULO".

Ir pra Gringolândia tirar uma graninha bonita é um coisa perfeitamente aceitável. Daí a orgulhar-se por ter registrado no currículo aquela "experiência" de auxiliar de cozinheiro, entregador de pizza ou faxineiro é de uma mediocridade sem precedentes.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A Força do Hábito

Que eu sou perfeitamente distraído, é notório para qualquer um que tenha estado comigo por mais de um par de minutos. Mas hoje eu me superei.

Como acordei tarde hoje - perdendo mais uma manhã de aulas -, tornou-se mais conveniente almoçar no buffet a kilo da esquina do que ir até o RU (até mesmo porque o RU fecha às 13h15, preciso horário em que consegui romper o estupendo momento de inércia da preguiça e saltei da cama). A comida lá, aliás, lembra bastante comida de vó (nada que se compare, claro, mas lembra); um exemplo irrepreensível de comida caseira. Servi meu prato - feijão-com-arroz, bife com queijo, tomate e beterraba (uma coisa que eu gosto no boteco da esquina é que sempre tem beterraba; e eu adoro beterraba) - e me acomodei numa mesa na rua. Comi com alguma pressa (estava atrasado para a bolsa), e foi quando o insólito se concretizou: peguei prato, copo e talheres, e levei até o caixa. Sim. Eu retirei a louça suja da mesa e levei-a até o caixa, como se estivesse no RU.

Mas, um consolo: Albert Einstein e Adam Smith - entre tantos outros - eram absurdamente distraídos. Ao menos algo de genial eu tenho. :D

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Le Resignacionism

Todo grande homem deve amparar sua conduta e, por extensão, sua existência em alguma grande filosofia. Como eu sou um destes grandes homens busquei a minha. Insatisfeito com os delírios de Nietzsche, as brumas sartreanas, o senso de humor sofista, o rigor hegeliano e a falta de academicidade (ou demasiada heteroxia) do saber do morro, apelei para a minha jorrante criatividade e fundei minha própria e excepcional (no sentido de genial, não de freqüentador da APAE) escola de pensamento: O Resignacionismo (do francês, le resignacionism).

Em vantagem às fracas teorias já existentes, o resignacionismo ensina o indivíduo a lidar com as coincidências e surpresas do dia-a-dia: é a fundamentação teórica do blasé, do tédio, do desinteresse. Portanto, trata-se de uma filosofia mal-humorada, mas pródiga em charme.

Na prática, para aderir ao resignacionismo, poucos esforços são necessários, pois trata-se, simplificadamente, de aprender a se expressar de forma a destituir de excitação as grandes bizarrices do cotidiano.

É fácil. Quando aquele amigo lhe contar que viu um colega do jardim B de quem ele não tinha notícias havia vinte anos, no shopping, você ponderará, sem o menor interesse: "Afinal, ele tinha que estar em algum lugar"; quando aquela amiga lhe segredar horrorizada que viu o ex ficando com um canhão, a reação será idêntica: "Afinal, ele tinha de ficar com alguém"; ou se vierem com um "tu nem sabe o absurdo!, o fulano está com o cabelo verde, um horror!". Uma seca e moderada dose de resignacionismo será suficiente para amainar a empolgação do indignado interlocutor: "Afinal, ele tinha que ter o cabelo de alguma cor, não é mesmo?"

Em última análise, o resignacionismo é um método eficiente para se livrar daquelas conversas fofoqueiras e desinteressantes, que em nada contribuem para o aperfeiçoamento do espírito - pelo contrário.

sábado, 18 de agosto de 2007

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Estorvo

Ainda ontem, festejava o fato de, ao contrário do que costuma acontecer no Campus Central no início de cada semestre, não ter cruzado com nenhum desses pobres diabos que ficam pentelhando à exaustão para que tu abras uma maldita conta no Santander. Satisfeito, imaginava que a UFRGS tinha proibido tais práticas no Campus.

Pelo visto, comemorei cedo demais. Hoje, quando chegava para cumprir as horas da bolsa, me deparei com os primeiros sinais de que o costumeiro calvário inexoravelmente se repetirá: cartazes enormes e quiosques rubros, tudo com o devido logotipo do"Santander. Tenho a triste impressão de que, durante as próximas semanas, esta terá sido a última vez que alcancei o Anexo I sem ser aporrinhado por aquelas insistentes criaturas.

Como não sei mais como me desfazer dos tais aliciadores, se tal prática persistir pelos próximos semestres, ou terei de surrar algum ou acabarei abrindo (novamente) uma conta no Santander - o que eu não recomendaria nem ao meu pior inimigo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Cambalache

Talvez seja desconhecido dos caríssimos o meu gosto - talvez excessivo - por tango. Quem acha o Tango uma cafonice é porque, certamente, só conhece aquelas gravações tacanhas e caça-níquel que se compra em posto de gasolina. O preconceito é equivocado: o Tango não só é atual como engendra um microcosmo complexo e universal, onde as temáticas mais caras ao homem são expostas de forma muito (bastante) lírica. Uma patente prova de minhas palavras é a letra do tango Cambalache, escrita em 1934 pelo genial Enrique Santos Discépolo:

Que el mundo fue y será una porquería
ya lo sé...
(¡En el quinientos seis
y en el dos mil también!).
Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublé...
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldá insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos
en un merengue
y en un mismo lodo
todos manoseaos...

¡Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor!...
¡Ignorante, sabio o chorro,
generoso o estafador!
¡Todo es igual!
¡Nada es mejor!
¡Lo mismo un burro
que un gran profesor!
No hay aplazaos
ni escalafón,
los inmorales
nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambición,
¡da lo mismo que sea cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón!...

¡Qué falta de respeto, qué atropello
a la razón!
¡Cualquiera es un señor!
¡Cualquiera es un ladrón!
Mezclao con Stavisky va Don Bosco
y "La Mignón",
Don Chicho y Napoleón,
Carnera y San Martín...
Igual que en la vidriera irrespetuosa
de los cambalaches
se ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remaches
ves llorar la Biblia
contra un calefón...

¡Siglo veinte, cambalache
problemático y febril!...
El que no llora no mama
y el que no afana es un gil!
¡Dale nomás!
¡Dale que va!
¡Que allá en el horno
nos vamo a encontrar!
¡No pienses más,
sentate a un lao,
que a nadie importa
si naciste honrao!
Es lo mismo el que labura
noche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata, que el que cura
o está fuera de la ley...

(Sei que é meio maçante ler letras de música em blog - parece encheção de lingüiça; mas, neste caso - e me responsabilizo - vale muito a pena.)

terça-feira, 31 de julho de 2007

Pelo fim da CPMF

Não sou de ficar fazendo propaganda aqui no blog; mas, neste caso, a causa é tanto justa quanto séria.
Não deixem de participar do abaixoassinado da FIESP: http://cpmf.fiesp.com.br/.

Futebol

Ser goleiro é um dos trabalhos mais solitários que existem. Todas as defesas extraordinárias da história colocadas juntas não podem compensar um erro em um momento vital. Depois de muitos anos em que vivi numerosas experiências, seguramente tudo o que sei sobre moral e responsabilidade eu devo ao futebol. Aprendi que a bola nunca vem para a gente por onde se espera que venha. Isso me ajudou muito na vida, principalmente nas grandes cidades, onde as pessoas não costumam ser aquilo que a gente pensa que são...

Se o Camus disse, quem sou eu para contestar?
O jeito é jogar mais vezes, para me tornar mais responsável. ;D

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Errata

Ironicamente, o título do post "Sentido e Conotação" foi vítima do próprio vício que o texto critica. E ninguém se deu conta disso (não pensem que foi algo do tipo "peguei vocês!" porque eu também não me dei conta).

Explico. Sentido e conotação, neste caso, são termos análogos. Onde escrevi sentido, deveria constar significado, pois eu estava confrontando os aspectos diferentes, as faces distintas que as palavras, aos nossos olhos (?), apresentam. O ouvido de músico, no entanto, deve ter optado por sentido por se tratar de um termo mais sonoro, mais conforme às suas obsessões estéticas.

Não é de se admirar que, no entanto, ninguém tenha reparado nessa redundância. No fundo, todos que leram e comentaram o texto compreenderam qual era a minha intenção. Como conotação soa mais forte do que sentido, estabeleceu-se uma relação de hierarquia entre as duas palavras que, embora equivocada, surtiu o efeito desejado; ou seja, consegui opôr uma a outra, como tensionava fazer através da "escolha original" - se é que em algum nível mental ela aflorou em algum momento.

Nunca o significado pretere a aparência. Assim, perdoemos os fúteis: eles fazem honestamente o que nós - metidos a besta, acadêmicos letrados de meiatigela, intelectuais de botequim - fingimos não fazer. A eles, o céu da alegria fácil, terrena, tangível; a nós, o inferno da tacanheza enrustida.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Quando o trabalho entedia

Entediado no trabalho?
O pessoal mala da informática bloqueou o Orkut?
Seus problemas acabaram: http://besteirasdoorkut.blogspot.com/ :D

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sentido e conotação

Estava com a patroa, esses dias, quando me ocorreu uma dessas percepções que surgem do nada. Como a maioria das idéias que brotam do ócio cerebral, subconsciente, não é lá de grande valia. Mas vamos a ela.

É impressionante como, em qualquer ato que envolva o uso da linguagem, somos guiados menos pelo significado das palavras do que pela sua conotação. (Ok, eu não precisei de 24 anos para chegar a essa conclusão um tanto óbvia) Desse fenômeno não escapam as mais sutis variações de um termo - isto é, duas expressões com exatamente o mesmo significado podem tomaram conotações diametralmente opostas.

O exemplo que me ocorreu foi o uso do adjetivo colonial e de sua locução equivalente de colono.

Quando nos referimos a móveis coloniais, café colonial e arquitetura colonial, todo mundo fica satisfeito e estampa um sorriso no rosto: trata-se, para a maioria das pessoas, de objetos de fetiche. Por outro lado, sua irmã gêmea de colono tem um sentido completamente negativo. Quando se quer xingar alguém por algo feito com pouca perícia, nas coxas, se chama essa pessoa de colono; quando alguém exaltar o orgulho de nascer na capital diante uma pessoa que veio do interior, a chama de colono. Em síntese, colono é sinônimo de tosco, grosseiro.

Pelo uso figurado que fazemos de certas palavras, esquecemos seu sentido original. Notem que, no sentido dicionaresco, colonial e de colono são exatamente a mesma coisa, qualificam de forma igual. No entanto, ninguém se deslocaria até Gramado para tomar um café de colono, nem pagaria fortunas por móveis de colono. Arquitetura de colono seria algo como uma cabana de paredes feitas de palha e estrume de vaca.

Na boa, colonos somos nós.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Férias

Fim de semestre, finalmente.

O alívio da constatação acima fica por conta, principalmente, da última quinzena - heróica praticamente. Movi mundos e fundos e paguei toda a vagabundagem que eu tinha adiantado durante o semestre. A breve e intensiva dedicação valeu: passei em todas as disciplinas (sendo que, em algumas, alcancei conceito superior ao esperado). Embora tenha sido exaustivo passar noites em claro debruçado sobre os livros, foi uma boa experiência. Acho que resgatei um pouco do tesão que tinha por estudar, coisa que não me vinha desde a época do colégio (se bem que naquela época eu não estudava por que gostava, mas por ser obrigado). Tomara que essa crise de CDF se estenda para os semestres que vem por aí, embora não acredite muito. Me conheço bem.

Agora, é planejar algo para fazer no tempo livre que apareceu. Pensei em ir ao teatro, ao cinema, essas coisas que eu gosto tanto de fazer e igualmente há tanto tempo não faço... Quem sabe tirar da gaveta aquele conto que ficou no primeiro capítulo e me aventurar por mais uma ou duas partes... Terminar de ler a biografia do Maquiavel e "Os Irmãos Karamázovi"... Mas, sobretudo, trocar o colocar um espelho do banheiro.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Mas-Colell

Abandonei um pouco os exercícios de Contabilidade Social para disponibilizar dois links que podem ser de muita utilidade aos economistas que freqüentam o blog.

Num lance de tremenda sorte, catei o "Microeconomic Theory", de Mas-Colell e Whinston, - com direito a livro de respostas e tudo, no Rapidshare (bendito Rapidshare!). Uma ótima pedida para quem está farto de Pindycks e Varians da vida. ;D

LINKS:
Microeconomic Theory
Microeconomic Theory Solution Manual

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Lâmpada

Há alguns dias queimou a lâmpada do banheiro. Como bom pãoduro e preguiçoso que sou (tá bom, nem sou tããão sovina assim), tirei a lâmpada do spot da sala, que estava com todas as três lâmpadas, e substitui a queimada do banheiro.

Hoje, enquanto tentava pôr algumas coisas em ordem na minha escrivaninha, abri uma gaveta e (como fazem os atores da propaganda do Hypercard) tchanãããm!, sabem que eu encontrei? A lâmpada queimada! Então lembrei-me que havia guardado ali por não saber o que fazer com ela, se devia colocá-la no lixo seco (correndo o risco de machucar algum incauto lixeiro) ou se deveria entregar em algum posto de coleta da prefeitura ou bizarrice semelhante.

Agora me digam, o que se faz quando uma lâmpada queima e desejamos descartá-la?!

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Cotas aprovadas

Como era de se esperar, as cotas raciais e sociais na UFRGS foram aprovadas. Os movimentos pró-cotas, seguindo mais uma vez o veio democrático da esquerda, conseguiram que as cotas fossem silenciosamente enfiadas boca abaixo da Sociedade.

Agora, 30% das vagas de cada curso são destinadas a alunos de escola pública, sendo que 15% vão para os egressos em geral enquanto 15% vão para os egressos que se autodeclararem negros. Assim os negros pobres tem duas vezes a chance de um branco pobre de entrar na UFRGS. Esse favorecimento em favor dos afro-descendentes estimula qualquer mente mais crítica a aventar justificativas para tal. Eu não vou citar algumas das possíveis explicações para essa vantagem. Seria constrangedor.

Muito da lábia pró-cota foi depositada no argumento que na UFRGS há muitos poucos estudantes negros. E é verdade, os afro-brasileiros são realmente minorias nas salas de aula da Universidade Pública. No entanto, será que essa exclusão do negro no sistema educacional só se dá em ensino superior?

Tive o prazer de lecionar por dois anos no curso pré-vestibular CEUE - instituição voltado a preparar indivíduos provenientes das camadas mais pobres da sociedade para o difícil vestibular da UFRGS. Assim, para ingressar no cursinho, era necessário comprovar que a renda familiar era inferior a um certo nível estipulado. Após a triagem por critério de renda, era aplicada uma prova de múltipla escolha que tinha por objetivo aferir se o candidato tinha condições mínimas de conhecimento para acompanhar as aulas. O mais interessante, no entanto, é que, iniciado o ano letivo, era possível verificar que menos de 10% dos alunos do cursinho eram negros. A que conclusão podemos chegar a partir do fato que eu citei? Que o negro não é excluído do sistema educacional no Ensino Superior, mas muito antes. (...)

Cabe aqui notar, também, que, no censo do ano 2000, apenas 5% dos gaúchos se autodeclararam de cor negra. Como, então, justificar a cota de 15% das vagas de cada curso para negros? Seria mais justo se que o tamanho da cota fosse em torno de 5%. Sem querer bancar o cético - mas também não sou tão ingênuo - quero ver se só 5% dos inscritos no vestibular 2008 se autodeclararão negros!

O assunto é interminável e irritante. Vou parar por aqui. Espero contar com comentários a agregações dos pacientes leitores.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Pichações

Aposto com quem quiser um fardinho de latas de Bohemia que as pichações de cunho racista no Campus Central da UFRGS são obra da atual gestão do DCE e da militância pró-cotas.

Haja ingenuidade!

segunda-feira, 25 de junho de 2007

As cotas racistas e a direita

Podem me cobrar no final do ano, se eu estiver errado. Mas duvido que esteja. Anotem aí: uma chapa de direita xiita vai levar o DCE nas próximas eleições.

A criação de cotas na UFRGS, sobretudo as raciais, tem revelado a oposição de muitos estudantes sobre o assunto. Se pelo lado do debate político este é um acontecimento benéfico, na prática pode (e irá) representar a ruína para o DCE.

Com o crescente número de alunos demonstrando sua oposição às cotas, fica claro que uma parcela do corpo discente da faculdade não se encontra representado pelo órgão máximo da classe dentro da Universidade; qual é a tendência natural? Que não votem em nenhuma chapa que seja composta por alunos, partidos ou seja lá o que for pró-cotas. E quem são os pró-cotas, em sua maioria? Os militantes de esquerda. Assim, surgirá uma chapa de direita nazi-fascista no final do ano, composta por malucos que venderiam a mãe se lhes fosse oferecido algum dinheiro, que usará como mote o não às cotas. E, quando se depararem com o "não às cotas", a maioria dos estudantes contrários às cotas votarão nesta chapa apocalíptica - independentemente do resto do seu programa -, chutando o balde.

O DCE está, assim, sendo entregue de mão beijada a um grupo de malucos de extrema-direita.

Aliás, será que a maioria dos estudantes da UFRGS são favoráveis às cotas? Eu aposto que não. E o DCE sabe disso. Caso contrário, já teria exigido um plebiscito dentro da Universidade para legitimizar as cotas.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

MP3

Como eu não sei me comportar, minutos depois de ter escrito aquele post melancólico reclamando do acúmulo de trabalhos e provas típicos de final de semestre e anunciando nas entrelinhas um afastamento temporário do blog, cá estou de novo. Mas é por um assunto nobre, de utilidade pública, praticamente.

Há alguns dias que penso em escrever esse post, mas, na hora, sempre acabo me esquecendo.

Acho que todos já perceberam, nos últimos meses, o surgimento de blogs destinados a divulgar e disponibilizar, normalmente através de links para o Rapidshare, álbuns de música inteiros em formato MP3. Os estilos são dos mais variados. Eu, particularmente, freqüento dois blogs que divulgam CDs de MPB e música clássica. São eles:
  • P.Q.P. Bach. Como dá pra adivinhar pelo nome é dedicado à distribuição de MP3 de música erudita. As postagens vão de obras bastante conhecidas do público em geral - tipo Concertos Comunitários Zaffari ou propaganda de sabonete - àquelas que exigem um pouco mais de "dedicação" do ouvinte. Destaque para os textos que acompanham os links, sempre muito interessantes, assinalando aspectos importantes e curiosidades acerca das obras. Imperdível para quem gosta do gênero.
  • Um Que Tenha. É um blog voltado à MPB. De Anísio Silva à Vanessa da Mata, a maioria dos grandes expoentes da música popular nacional, seja da atualidade ou das antigueiras, encontra-se lá bem representada pelos seus álbuns mais marcantes. Vale a visita.

Prestando contas

Faz uns dias que eu não posto. Mas, não! não se preocupem: não desisti do blog. É que, na boa linguagem corrente do dia-a-dia, ultimamente tem sido foda achar tempo para dedicar a algo que não seja a faculdade. Não bastassem só as provas - e pra algumas cadeiras eu dependo praticamente de intervenção divina pra passar - ainda deixei acumular uma montanha de trabalhos. Tá certo que são trabalhos (dois ensaios e um resumo) sobre assuntos que eu gosto, mas isso não quer dizer que não me tomem um precioso tempo; sem contar que a obrigação de fazê-los torna a tarefa bem menos prazeirosa.

Espero, daqui a duas ou três semanas - quando bem ou mal tudo deve ter se findado -, voltar ao ritmo normal das postagens.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Em busca da noz moscada

Impressionante como tarefas a priori singelas podem assumir contornos assustadores.

Ontem fui ao Zaffari para comprar os ingredientes necessários para fazer spaguetti ao funghi. "Jogo rápido", pensei, uma vez que tinha tomado a precaução de fazer uma lista de compras antes. Nada disso! O Sr. Zaffari, desde que inventou de mudar tudo de posição no seu supermercado, tem me deixado de cabelo em pé.

Noz moscada é um tempero, certo? Então por que diabos ela não está junto com o cominho, com a pimenta, com a sálvia e com o louro?! Depois de perder mais de dez minutos diante da gôndola dos temperos, num embasbacamento atônito, me aproveitei de um funcionário que por ali passava para perguntar onde ficava a tal noz moscada em pó. Ele, com a maior naturalidade - como se fosse óbvio -, me indicou o corredor de trás. Agora me digam, por favor, o que a noz moscada faz junto do fermento, do leite de coco e das gelatinas?!

Cada vez estou mais convencido de que, para localizar qualquer coisa no Zaffari Lima e Silva, só com mapa.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Fim dos tempos

Vos digo honestamente - e duvido que exista alguém que comigo discorde: esta época do ano em especial - finaleira de semestre - é o calvário de todo estudante universitário.

Impressionante, o arcabouço criativo dos professores para bolar trabalhos inúteis e sem sentido parece ilimitado.

domingo, 10 de junho de 2007

Baliza em 9s30!

Se na vida real sou uma completa negação diante do volante, ao menos no computador tenho algum talento.

Achei um jogo em Flash cujo objetivo é estacionar um automóvel numa vaga de proporções bem exíguas no menor tempo possível. Depois de uns tempos bem vexatórios (como 3m50s) e muitos amassões, consegui uma verdadeira façanha: completei a baliza em 9s30, sem nenhuma batida!

Se alguém quiser tentar (cahan, cahan) bater o meu record, o jogo está disponível aqui.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Nihil Estudantil

Desde a Ditadura Militar, o movimento estudantil vem tristemente definhando por meio de suas próprias mãos. A adoção de posturas e atitudes completamente disassociadas dos nossos dias, torna-o cada vez menos atraente para os estudantes que, ano a ano, ingressam na Universidade.

As causas são muitas; e seria entediante citá-las uma a uma. Concentremo-nos então nas que, pela minha ótima, se avultam como as principais.

O Movimento Estudantil, político por natureza, tem se tornado, desde há muito, antro de partidos políticos e de ideologias salvadoras. Num contexto em que os Estados Unidos financiava o cerceamento à liberdade, a tortura e todo tipo de barbárie em nosso país, fazia bastante sentido recorrer ao outro lado da balança: o marxismo. Desde então, o fetiche por Marx tem declinado gradativamente em nossas rodas intelectuais e políticas sérias. Outros, no entanto, continuam se apegando aos seus preceitos arcaicos e de pouca contextualização à nossa realidade. Na verdade, não se apegam ao marxismo coisa nenhuma: se apegam àquilo que lhes venderam como sendo marxismo e, deslumbrados, acabam por comprar gato por lebre. A cooptação é menos estudantil e mais partidária. Há programas a serem seguidos que prevêem desde os pontos iniciais até como se organizará a sociedade pós-revolucionária na ditadura do proletariado. (Alguém conhece um proletário?) E o caráter estudantil do movimento? Se limita a causas singelas que servem mais para fazer propaganda de ideologia e partido do que para o fim que elas se destinam. A maioria dos estudantes, sensatos, fogem dessa lavagem cerebral, naturalmente.

A falta de foco das ações são outra grave falha, decorrente ainda da primeira. Um protesto pela mudança da privada de um banheiro tem que ser necessariamente acompanhado de críticas ao governo, ao FMI e às políticas neoliberais. Qual é a dificuldade de manter-se fiel a um objetivo e persegui-lo até o fim? Nenhuma. O problema é que a desonestidade da luta não se deixa suprimir tão facilmente. O objetivo do protesto é, antes de mais nada, reafirmar o "fora Bush, fora FMI", salientar o discurso. São ações metafísicas, não práticas. Indolentes. A cara do nosso movimento estudantil.

Os métodos empregados são ainda mais patéticos. Palavras de ordem, musicas-clichê (e o que não é clichê no movimento estudantil?), apitos, tambores, barulho, baderna. Pouco além disso. Falam em ações afirmativas. E as ações positivas, onde estão? Onde está a atitude e a realização? Ficam no discurso e mais nada.

Diante de um panorama desses, é normal que o estudante não se sinta atraído pelo movimento estudantil, pois não se sente representado por ele. Os ideais defendidos pelo movimento estudantil, não são os ideais dos estudantes, os problemas que o movimento estudantil combate, não são os problemas dos estudantes. O movimento estudantil não fala a língua do estudante, a língua da mudança, da verdadeira revolução, ele fala a língua dos partidos operários das fábricas estatais eslavas.

E há, sim, necessidade de um movimento estudantil forte, pois sempre existirão estudantes com anseios, opiniões e necessidades. O que se faz mistér é um exercício de auto-crítica das próprias organizações estudantis. Elas tem que fazer uma análise sobre a sua trajetória, sobre suas raízes, uma verdadeira regressão aos seus primórdios, pois só assim entenderá, honestamente, o tamanho do papel que lhe é conferido, que é muito maior do que o programa de qualquer partido político.

Bairrismo

Tá bom: eu admito que a minha opção por hospedar o blog no Blogspot deveu-se fortemente por agora o serviço contar com a grife Google.

Quem disse que não há modismo e fetiche consumista entre os nerds?

Criatividade estudantil

Foi só eu que senti uma certa dose de macaqueamento na recente tomada da reitoria da UFRGS?

terça-feira, 5 de junho de 2007

Como investir na bolsa. Lição I

NÃO COMPRE TULIPAS.

A historieta transcrita a seguir ocorreu na Holanda, em meados do Século XVI.

A Bolha das Tulipas iniciou-se com a sua importação da Turquia a partir dos finais dos Sec. XVI quando entretanto a flor foi atacada por um vírus que não a matou mas antes começou a produzir novos padrões, que variavam de Tulipa para Tulipa produzindo assim um artigo raro, procurado e apetecido.

Assim e talvez não muito surpreendentemente conhecendo a natureza dos mercados e a irracionalidade que pode atingir os investidores, a cotação das Tulipas começou a subir de tal forma que a dada altura havía investidores dispostos a desfazerem-se de todas as suas poupanças de uma vida ou mesmo dos seus terrenos e das suas casas para adquirir mais Tulipas quando não para adquirir uma única Tulipa, sempre no pressuposto de que a(s) venderíam mais tarde a um preço mais elevado. Num só mês chegaram a registar uma valorização de 20 vezes!

Em determinado momento os investidores mais prudentes começaram a desfazer-se do seu espólio provocando uma correcção no valor das Tulipas e não tardou surgiu o efeito de avalanche característico dos Crashes. O que começou por uma correcção mais do que justificada a tanta irracionalidade em torno de um produto de valor subjectivo mas cuja avaliação tinha atingido valores perfeitamente irracionais não tardou e transformou-se em pânico com os investidores a vender a qualquer preço aquilo que tinham comprado a peso de ouro, não que fossem movidos por uma repentina crise de racionalidade mas por puro e simples pânico.

Idade Média e Odontologia

Se mesmo depois do post sobre higiene na Idade Média restar em pé algum panaca reivindicando seu lugar na corte de algum rei malcheiroso ou na cama de alguma duquesa sifilítica, peço que considere a ilustração abaixo, do século XIV:


E você que reclamava do barulhinho da broca, hem?!

Megafone

Por causa do post de ontem, vieram me chamar de conservador hoje.

Tudo bem, o que escrevi ontem sobre o imbecil de megafone deve ser encarado como um desabafo, um rompante de fúria dirigido mais propriamente ao megafone do que ao asno - com todo o respeito aos animais - que o empunhava.

Quanto à taxa do vestibular, mandei um e-mail para a COPERSE - o órgão da UFRGS que tradicionalmente organiza o concurso - inquirindo quanto aos custos totais da última seleção.

Nada melhor do que fatos para descadeirar sandices e asneiras.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Consciência crítica estudantil

Ao cair da noite, na frente da Faculdade de Educação, havia um boçal segurando um megafone que, certamente inconsolável por não conseguir controlar o furor anal de sua progenitora, dava mostras de plena estupidez. Meio solitário, porque a esta altura o resto da esquerda festiva já devia ter ido encher a cara de cachaça no Mariu's, praguejava contra o custo da taxa de inscrição do vestibular: R$ 100,00.

Tá certo, não é dos preços mais baratos. Mas o sujeito aí parece esquecer que o processo seletivo, realmente, é caro de ser empreendido. Se ele convencesse os seus colegas a trabalharem de fiscais voluntariamente no vestibular, sem receber o polpudo "auxílio" com que são remunerados, a inscrição para o processo seletivo, certamente, sairia mais barata; ainda, se ele topasse que fosse extinto o auxílio àqueles que não podem pagar, obrigando com que a taxa de inscrição fosse única e universal, o valor desta certamente cairia também.

Mas, se ele não quer que nenhuma destas duas coisas aconteçam - e ele não quer! -, então ao menos que páre de protestar contra uma situação que ele mesmo acaba apoiando. Que desafogue os seus arroubos político-românticos na privada, não nos meus ouvidos.

George Gershwin

Era uma vez um menino muito muito pobre chamado George. Ele passou sua infância no Brooklin e era filho de imigrantes russos de origem judaica. Quando tornou-se adulto, ao invés de virar batedor de carteiras profissional ou membro da máfia, ele fez isso:

Link para a segunda parte.

Higiene ≠ Idade Média

Este fragmento - que eu, inescrupulosamente, roubei de um blog português - vai para todos aqueles idiotas que gostariam de ter vivido durante a Idade Média ou Moderna:
"Na Idade Média, não existiam escovas de dente, perfumes, desodorizantes, muito menos papel higiénico. As excrescências humanas eram despejadas pelas janelas do palácio.
Em dia de festa, a cozinha do palácio conseguia preparar banquete para 1.500 pessoas, sem a mínima higiene.
Vemos nos filmes de hoje as pessoas sendo abanadas. A explicação não está no calor, mas no mau cheiro que exalavam por debaixo das saias (que eram propositadamente feitas para conter o odor das partes íntimas, já que não havia higiene).
Também não havia o costume de se tomar banho devido ao frio e à quase inexistência de água encanada. O mau cheiro era dissipado pelo abanador. Só os nobres tinham lacaios para abaná-los, para dissipar o mau cheiro que o corpo e boca exalavam, e para espantar os insectos.
Quem já esteve em Versailles admirou os jardins enormes e belos que, na época, não eram só contemplados, mas 'usados' como vaso sanitário nas famosas baladas promovidas pela monarquia, porque não existia banheiro.
Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de Junho (para eles, o início do verão).
A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em Maio; assim, em Junho, o cheiro das pessoas ainda era tolerável. Entretanto, como alguns odores já começavam a incomodar, as noivas carregavam buquês de flores, junto ao corpo, para disfarçar o mau cheiro. Daí termos 'Maio' como o 'mês das noivas' e a explicação da origem do buquê de noiva."
Eu me acabava na bronha certo.
Parece até palhaçada, ultraje, tristeza, se não fosse real.

Lá vem o Pato (pataqui patacolá) com mais um dos seus blógues natimortos, sem linha temática consistente ou mesmo bem definida, e seus textos intimistas e obscuros.

Já viu, né?, vai ser de novo toda aquela coisa de semanas e meses sem postar e, a cabo do início da Primavera, o blógue já deve estar abandonado.

Por isso, é um canto que já nasceu sitiado. Numa queda de braço tão involuntária quanto tentadora, eu protelo as idéias, as vontades: toda a escrita. Porque a Lagoa está sitiada. E enquanto assim estiver, não há nada que possa fazer.

A Lagoa está cercada.

Não há o que se possa fazer.

A não ser esperar.

Porque o tempo é...