Desde a Ditadura Militar, o movimento estudantil vem tristemente definhando por meio de suas próprias mãos. A adoção de posturas e atitudes completamente disassociadas dos nossos dias, torna-o cada vez menos atraente para os estudantes que, ano a ano, ingressam na Universidade.
As causas são muitas; e seria entediante citá-las uma a uma. Concentremo-nos então nas que, pela minha ótima, se avultam como as principais.
O Movimento Estudantil, político por natureza, tem se tornado, desde há muito, antro de partidos políticos e de ideologias salvadoras. Num contexto em que os Estados Unidos financiava o cerceamento à liberdade, a tortura e todo tipo de barbárie em nosso país, fazia bastante sentido recorrer ao outro lado da balança: o marxismo. Desde então, o fetiche por Marx tem declinado gradativamente em nossas rodas intelectuais e políticas sérias. Outros, no entanto, continuam se apegando aos seus preceitos arcaicos e de pouca contextualização à nossa realidade. Na verdade, não se apegam ao marxismo coisa nenhuma: se apegam àquilo que lhes venderam como sendo marxismo e, deslumbrados, acabam por comprar gato por lebre. A cooptação é menos estudantil e mais partidária. Há programas a serem seguidos que prevêem desde os pontos iniciais até como se organizará a sociedade pós-revolucionária na ditadura do proletariado. (Alguém conhece um proletário?) E o caráter estudantil do movimento? Se limita a causas singelas que servem mais para fazer propaganda de ideologia e partido do que para o fim que elas se destinam. A maioria dos estudantes, sensatos, fogem dessa lavagem cerebral, naturalmente.
A falta de foco das ações são outra grave falha, decorrente ainda da primeira. Um protesto pela mudança da privada de um banheiro tem que ser necessariamente acompanhado de críticas ao governo, ao FMI e às políticas neoliberais. Qual é a dificuldade de manter-se fiel a um objetivo e persegui-lo até o fim? Nenhuma. O problema é que a desonestidade da luta não se deixa suprimir tão facilmente. O objetivo do protesto é, antes de mais nada, reafirmar o "fora Bush, fora FMI", salientar o discurso. São ações metafísicas, não práticas. Indolentes. A cara do nosso movimento estudantil.
Os métodos empregados são ainda mais patéticos. Palavras de ordem, musicas-clichê (e o que não é clichê no movimento estudantil?), apitos, tambores, barulho, baderna. Pouco além disso. Falam em ações afirmativas. E as ações positivas, onde estão? Onde está a atitude e a realização? Ficam no discurso e mais nada.
Diante de um panorama desses, é normal que o estudante não se sinta atraído pelo movimento estudantil, pois não se sente representado por ele. Os ideais defendidos pelo movimento estudantil, não são os ideais dos estudantes, os problemas que o movimento estudantil combate, não são os problemas dos estudantes. O movimento estudantil não fala a língua do estudante, a língua da mudança, da verdadeira revolução, ele fala a língua dos partidos operários das fábricas estatais eslavas.
E há, sim, necessidade de um movimento estudantil forte, pois sempre existirão estudantes com anseios, opiniões e necessidades. O que se faz mistér é um exercício de auto-crítica das próprias organizações estudantis. Elas tem que fazer uma análise sobre a sua trajetória, sobre suas raízes, uma verdadeira regressão aos seus primórdios, pois só assim entenderá, honestamente, o tamanho do papel que lhe é conferido, que é muito maior do que o programa de qualquer partido político.