sábado, 16 de fevereiro de 2008

Curtas II

Punta I
A principal vantagem de Punta sobre o Litoral Norte do RS é que na playa porteña tem menos brasileiros.

Punta II
Quando viajo, sempre tento me aproximar ao máximo das atividades dos habitantes locais. Vou ao supermercado, evito tours, me enveredo pelos becos, me perco no meio do cotidiano. É uma espécie de incorporação da aura local, a construção de uma identidade adequada àquela realidade. Nenhuma cidade mais imprópria para tal aventura do que a cosmopolita Punta del Este.

Auto-escola I
Felizmente terminaram as aulas teóricas - um eufemismo claro para sessões de tortura. As aulas teóricas são uma experiência única para um jovem blasé de classe média; provavelmente elas são o segundo contato direto (o primeiro é o alistamento militar) que ele tem com uma amostra não-viesada da sociedade: o único elo entre aqueles indivíduos - pobres, gordos, magros, ricos, feios, brancos, negros, velhos, pardos, bonitos, jovens - que se submetem aqueles momentos enfadonhos e aparentemente eternos é a ambição de conquistar a prosaica - mas importantíssima - carteira de motorista. Nenhum livro, nenhum filme, nenhum álbum... nada, absolutamente nada, em comum.

Auto-escola II
Acho que o único requisito para se tirar carteira é saber escrever. Eu tinha um "colega" de aula teórica que lembrava muito um desses carroceiros. Usava os cabelos bagaceiramente presos pela fresta do ajustador do boné (aquela buracão acima da língua plástica que se usa pra aumentar ou diminuir o boné). E não calava a boca de jeito nenhum durante as aulas: "fessora, fessora, mas se o pedestre tiver na faixa de segurança e o pedestre o carro estiver aberto pra passar...". Depois da primeira aula, a instrutora passou sensatamente a cortá-lo. A pérola máxima do meu coleguinha se deu em uma das últimas aulas: "Porque vocês sabem, o Brasil é que nem caranguejo, só anda pra trás."