domingo, 30 de novembro de 2008

Direito à opinião

Como tudo que é muito bonito na teoria, o direito à opinião, na prática, gera transtornos.

Acredito que toda manifestação é válida, contanto que seja pertinente. A bola da vez, em Porto Alegre, é o Pontal do Estaleiro, investimento que prevê a construção de prédios altos e de uma área comercial aberta ao público na orla do Guaíba.

Eu tenho opinião formada sobre o assunto. E, com restrições, ela é favorável ao projeto. Ter opinião é saudável.

O problema surge quando pessoas que moram longe do local reivindicam para si o direito de escolher se a construção deve sair ou não. Chega a ser patético ver o pessoal do Bom Fim ou da Bela Vista decidindo, das suas poltronas, se o Pontal deve ser erguido ou não. Eesta questão deve ser definida por quem está no seu escopo: os moradores da região, arquitetos, engenheiros e ambientalistas. Pessoas como eu não devem ter a pretensão de decidir se o investimento se dará ou não: ao tomar para mim este direito, retiro-o, na mesma proporção, de quem será diretamente afetado pela obra e de quem tem conhecimento de causa sobre a questão: os verdadeiros interessados pelo futuro do Estaleiro.

sábado, 15 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Feira do Livro I

A Feira do Livro é o emblema-mór do provincianismo porto-alegrense. Por pouco mais de duas semanas, os gaúchos da capital ganham o direito de se apinhar entre os estandes - fazendo de conta que lêem muito -, freqüentar as atividades pretensiosas e pseudocults promovidas pela Feira e, o melhor!, serem galardoados com autógrafos de sumidades do conhecimento e da cultura ocidental como Humberto Gessinger, Anonymous Gourmet, Luís Augusto Fischer, Luís Fernando Veríssimo, entre outras deidades gaudérias.

Logo no domingo, caí na asneira da assistir um espetáculo cênico-musical sobre 1984, do George Orwell. (Teria sido extremamente proveitoso se, no site da Feira, constasse que a montagem era livremente inspirada no livro.) O que presenciei foi de rara medonhice: uma coleção de canções (dessas que tu escuta na praça de alimentação de um shopping) falando sobre amor, interpolada por falas no melhor estilo Ursinhos Carinhosos: "O mundo seria um lugar muito melhor se houvesse sobre a cabeça de cada um de nós uma lâmpada que acendesse quando mentimos". Uma tentativa pretensiosa de transformar 1984 na última coisa que ele é: a bandeira do mundo melhor preconizado pelas esquerdas. Não resisti até o final.

O bom é que, com o passar do tempo, tu deixa de te iludir com certas coisas. Estou bem mais tolerante com a Feira neste ano do que no passado, pois, desta vez, ao contrário das edições anteriores, não tinha a intenção de encontrar na Praça da Alfândega a salvação terrena. Um passeio minimamente agradável já me bastaria.

Comprei alguns livros, mas isso fica para um próximo post.