quarta-feira, 6 de junho de 2007

Nihil Estudantil

Desde a Ditadura Militar, o movimento estudantil vem tristemente definhando por meio de suas próprias mãos. A adoção de posturas e atitudes completamente disassociadas dos nossos dias, torna-o cada vez menos atraente para os estudantes que, ano a ano, ingressam na Universidade.

As causas são muitas; e seria entediante citá-las uma a uma. Concentremo-nos então nas que, pela minha ótima, se avultam como as principais.

O Movimento Estudantil, político por natureza, tem se tornado, desde há muito, antro de partidos políticos e de ideologias salvadoras. Num contexto em que os Estados Unidos financiava o cerceamento à liberdade, a tortura e todo tipo de barbárie em nosso país, fazia bastante sentido recorrer ao outro lado da balança: o marxismo. Desde então, o fetiche por Marx tem declinado gradativamente em nossas rodas intelectuais e políticas sérias. Outros, no entanto, continuam se apegando aos seus preceitos arcaicos e de pouca contextualização à nossa realidade. Na verdade, não se apegam ao marxismo coisa nenhuma: se apegam àquilo que lhes venderam como sendo marxismo e, deslumbrados, acabam por comprar gato por lebre. A cooptação é menos estudantil e mais partidária. Há programas a serem seguidos que prevêem desde os pontos iniciais até como se organizará a sociedade pós-revolucionária na ditadura do proletariado. (Alguém conhece um proletário?) E o caráter estudantil do movimento? Se limita a causas singelas que servem mais para fazer propaganda de ideologia e partido do que para o fim que elas se destinam. A maioria dos estudantes, sensatos, fogem dessa lavagem cerebral, naturalmente.

A falta de foco das ações são outra grave falha, decorrente ainda da primeira. Um protesto pela mudança da privada de um banheiro tem que ser necessariamente acompanhado de críticas ao governo, ao FMI e às políticas neoliberais. Qual é a dificuldade de manter-se fiel a um objetivo e persegui-lo até o fim? Nenhuma. O problema é que a desonestidade da luta não se deixa suprimir tão facilmente. O objetivo do protesto é, antes de mais nada, reafirmar o "fora Bush, fora FMI", salientar o discurso. São ações metafísicas, não práticas. Indolentes. A cara do nosso movimento estudantil.

Os métodos empregados são ainda mais patéticos. Palavras de ordem, musicas-clichê (e o que não é clichê no movimento estudantil?), apitos, tambores, barulho, baderna. Pouco além disso. Falam em ações afirmativas. E as ações positivas, onde estão? Onde está a atitude e a realização? Ficam no discurso e mais nada.

Diante de um panorama desses, é normal que o estudante não se sinta atraído pelo movimento estudantil, pois não se sente representado por ele. Os ideais defendidos pelo movimento estudantil, não são os ideais dos estudantes, os problemas que o movimento estudantil combate, não são os problemas dos estudantes. O movimento estudantil não fala a língua do estudante, a língua da mudança, da verdadeira revolução, ele fala a língua dos partidos operários das fábricas estatais eslavas.

E há, sim, necessidade de um movimento estudantil forte, pois sempre existirão estudantes com anseios, opiniões e necessidades. O que se faz mistér é um exercício de auto-crítica das próprias organizações estudantis. Elas tem que fazer uma análise sobre a sua trajetória, sobre suas raízes, uma verdadeira regressão aos seus primórdios, pois só assim entenderá, honestamente, o tamanho do papel que lhe é conferido, que é muito maior do que o programa de qualquer partido político.

7 comentários:

Risco disse...

Bom texto. Mas foca muito a crítica na esquerda. Não te esquece que a direta comete os mesmos "erros" no movimento estudantil.

Pra mim uma das causads dessa falta de foco, de metodos, e de praguimatismo, decorre dos estudantes que ficam de fora do movimento, e deixam o movimento fazer o que bem entender. Não vai ser o proprio pessoal que esta nas organizações estudantis quem vai fazer o "exercício de auto-crítica". Pra eles(nós?)tá bom assim.

Pato disse...

Risco, eu só posso falar do que eu conheço. Nunca vi organizações de "direita" coordenando recentemente o movimento estudantil.
Note, no entanto, que eu não faço a menor distinção entre esquerda e direita, por considerar essa terminologia oca, carente de significado e completamente perdida no tempo, na contra-mão.
Sempre que houver hierarquia arbitrária, cassação de liberdades civis e apologia à ditadura, me manifestarei contra.
Concordo contigo, plenamente, que a auto-crítica do movimento estudantil só poderia acontecer com uma participação maior dos estudantes. Enfim, é preciso tomar essa terra-sem-dono.

Amy Mizuno disse...

nunca viu porque tu ficou de fora do episódio MOVIMENTO ESTUDANTIL LIBERDADE
Sabe, liberdade é o tipo de palavra que se encaixa em todos os lugares, embora poucos compreendam realmente seu significado.
Bonito isso, vou anotar no meu blog
hauahuahuahuhauahuah

Pato disse...

Quanta megalomania, Xuli!
Essa coisa de admirar e ficar deslumbrado com a própria genialidade é prerrogativa minha!
Hehehe

Pato disse...

O uso que se faz da palavra "Liberdade" no Brasil lembra muito o duplipensar do Orwell. Adota-se a palavra mais pela sua conotação positiva do que pelo seu significado. Normalmente os que erguem a bandeira da Liberdade são os últimos a defendê-la.

Ricardo Agostini Martini disse...

E tinha até um nazista no Movimento Estdantil Liberdade...

Pato disse...

É impressionante a tendência que movimentos retrógrados de extrema-direita têm a utilizarem irresponsavelmente a palavra "Liberdade".